quinta-feira, 21 de março de 2013

Um tal de Zé


Por Júnia Botelho
(texto editado. Versão original vencedora do Prêmio Talentos da Maturidade, do Banco Real, hoje Santander, em 1997)

(...)
José.
Ficou velho. Odiou tanto essa condição, se “arrependeu” de ficar velho, dizia, que preferiu morrer. Abandonou os compromissos sociais “agora que sou velho não tenho obrigação de nada, posso tudo, eu faço o que eu quero”; despiu máscaras, despiu terno, despiu casca.
A velhice desnudou dignidade, desnudou condição humana. Só não conseguiu tirar-lhe essência: a vida que teve, reproduzida nas vidas que fez, biogenéticas ou não.

Esse é o tal de Zé
(...)
José ele se chamava. Fotógrafo. Sua máquina era seu terceiro olho, aquele que nos desvenda o mundo. Apreciava tudo com muito cuidado, meticulosamente. Esperava a luz apropriada, preocupava-se até mesmo com a direção do vento. Outro Zé, desta vez o “seu” Zé Barbeiro, homem simples, que entendia muito bem do seu métier de fazer barbas e cabelos, e só, estranhava o procedimento de procura de perfeição de seu homônimo:

dona Ruth, acho que o ‘seu’ Zizinho ‘tá ficando maluco. Ele ‘tá ali agachado no meio do mato, tirando retrato de pito-de-saci!”.

Sempre querida FATEA
(...) O instrumento de trabalho de José era o olhar, a máquina extensão. Ele piscava – a máquina piscava também, e produzia uma obra de arte. Que diafragma, que foco, que nada! eram retina e pupila, isso sim! Enquadrou a luz, enquadrou a sombra.

A tecnologia calçou as botas de 7 léguas e passou por cima de nossas cabeças, pensava José. O mundo da produção captação transmissão processamento armazenagem das imagens aperfeiçoa-se, permite uma construção tão perfeita que é difícil dizer se o que vemos é real ou uma reconstrução. Máquinas diferentes... “que história é essa de só apertar um botãozinho?” espantava-se José. Ele não admitia as simplificações, porém sua escolha não impedia os passos da tecnologia. Aos poucos foi sendo dispensado de suas funções, já não mais ensinava a ver. E cegou.

Rio Paraíba do Sul
1921 foi quando nasceu meu pai. No Vale das Cidades Mortas de Monteiro Lobato. No vale do rio que se chama Paraíba, rio que sai do Estado de São Paulo e chega ao Rio de Janeiro, acompanhando o viajante, volteando, ondeando, ilhando, cantando. Encantando o sol. Mas gritando de dor, pois está doente.
Meu pai e o rio. Entre rio e homem justapostos se estabeleceram afinidades, intimidades e conflitos que se efetivaram numa interação de profundos efeitos.

(...) Antes de cegar, meu pai enxergava as feridas do rio, fotografava homens que o sangraram.
Como não podia lutar contra Deus e Seus mandamentos, contra o câncer que lhe comia a carne, contra o Alzheimer que lhe carcomia o cérebro e também a alma, então dedicava-se a fotografar a miséria exposta do seu amigo rio. Viu o que matava o seu companheiro de desventuras no entanto esse homem não tinha mais tempo. O rio claro de sua infância sofria tanto quanto ele, chorava tanto quanto ele.

(...) Ah! Mas José estava morrendo... estava tão exangue, sentia-se tão inútil, não podia fazer mais nada.
Oras, mas o rio também tinha que tomar uma atitude! Tinha que ser fiel àquele que já não podia estar ao seu lado. Mas esse rio também envelhecia. E os finais de tarde eram cada vez mais purpúreos, manchando os olhos. Estavam os dois agonizando.

(...) O olhar que José tinha para seu rio era muito afetuoso.

 (...)
Mesmo se formos bons para o rio, às vezes ele pode ficar colérico. Ele enche, incha, transborda, atravessa seus limites e invade. Depois se arrepende, se acalma, volta, esvazia. Como se nada tivesse acontecido. Nem vê o que deixou para trás. Destroços não lhe dizem nada, somente coisas no caminho.

(...)
José era professor. Educador. Falava alto, dogmático, dono da verdade. E brigava por isso.
Ai! daquele que jogasse lixo no seu amigo rio! Não usava a palavra preservação porque rótulos não combinavam com ele; não queria saber de ecologismos, meioambientalismos.
Muito falatório e pouca mão na massa não adiantam nada. A casa está ruindo, todos estão vendo e quem é que pode fazer alguma coisa?
Os predadores estão no seu cérebro e no do rio, é preciso agir. “Eu não mudo nada no mundo, que minha presença ou ausência não faz diferença” diria José, “saio eu, daqui a pouco tem outro no meu lugar. Mas o rio morre e morre tudo em volta. Seca, esturrica, apodrece, cheira mal, faz adoecer e o círculo se fecha e então fica mais difícil de resolver. Quem é que pode ouvir este meu grito?”

(...)
É. Acredito que ele teria gostado de falar disso. E para finalizar tocaria uma modinha no seu violão, naquele jeito seresteiro e boêmio.
Foto de Sebastião Albano


Envelhecer tem certas vantagens, as pessoas mudam de opinião sobre o que é certo e o que é errado. Já não tem mais importância alguma ser seresteiro. Melhor dizendo: é até mesmo valorizado.




(...)
José não desistiu, não. Ele agora está morando na história de Guimarães Rosa, à terceira margem do rio. E só sai de lá depois que seu amigo rio parar de sangrar. Ele também sangrou. E sabe o quanto doeu. Então ele não pode se calar. Nós, os filhos todos do tal de Zé, aqueles que ele gerou, aqueles que ele criou, aqueles que ele educou, aqueles que ele ensinou a ver e a enxergar, pedimos: por favor, tirem nosso pai da terceira margem.

Falar com meu Pai

Parler À Mon Père - Céline Dion 
Tradução de Júnia Botelho

Eu gostaria de esquecer o tempo 
Por um suspiro, por um instante 

Um parêntese após a corrida 
E partir para onde meu coração me empurra. 
Eu gostaria de encontrar minhas pegadas 
Onde está minha vida, onde é meu lugar 
E guardar o ouro do meu passado 
No calor do meu jardim secreto. 

Gostaria de cruzar o oceano 
Cruzar o voo de uma gaivota 
Pensar em tudo o que vi 
Ou até mesmo ir em direção ao desconhecido. 
Eu gostaria de roubar a lua 
Gostaria até de salvar a terra 

Mas, antes de qualquer coisa, eu queria falar com o meu pai. 

Falar com o meu pai 

Eu gostaria de escolher um barco 
Não o maior nem o mais bonito 
Eu o abarrotaria com as imagens 

E com os perfumes de minhas viagens. 
Gostaria de parar para me sentar 
E encontrar no poço de minha memória 
As vozes dos que me ensinaram 

Que não há sonho proibido. 

Gostaria de encontrar as cores 
Do quadro que tenho no coração 
Desse cenário de linhas puras 
Onde eu o vejo, o que me tranquiliza. 
Eu gostaria de roubar a lua 

Gostaria até de salvar a terra 

Mas, antes de qualquer coisa, eu queria falar com o meu pai. 
Falar com o meu pai 
Eu gostaria de esquecer o tempo 
Por um suspiro, por um instante 
Um parêntese após a corrida 
E partir para onde meu coração me empurra. 
Eu gostaria de encontrar minhas pegadas 
Onde está minha vida, onde é meu lugar 
E guardar o ouro do meu passado 
No calor do meu jardim secreto. 

Eu gostaria de partir com você 
Eu gostaria de sonhar junto com você 
Sempre procurar o inacessível 
Sempre ter esperança no impossível. 

Eu gostaria de roubar a lua 
E por que não ? salvar a terra 
Mas antes de qualquer coisa, acima de tudo, eu gostaria de falar com meu pai 

Falar com meu pai.

quarta-feira, 20 de março de 2013

CONCEITO DE ÉTICA

José Renato Nalini

1.1 Introdução 

A ética está em todos os discursos. A propósito de qualquer acontecimento, levantam-se as vozes dos moralistas a invocar a ne­cessidade de reforço ético. Ética, infelizmente, é moeda em curso até para os que não costumam se portar eticamente. Por isso, com­preensível que muitos já não acreditem no termo ética. Trivializou-se o chamado à ética, para servir a qualquer objetivo. Além disso, a uti­lização excessiva de certas expressões compromete o seu sentido, como se o emprego freqüente implicasse em debilidade semântica. Isso parece ocorrer com os vocábulos JUSTIÇA, LIBERDADE, IGUALDADE, SOLIDARIEDADE, DIREITOS HUMANOS e também com o termo ÉTICA. 

A invocação exagerada a tais palavras, em contextos os mais diversos, conseguiu banalizar seu conteúdo. Situam-se em todos os discursos, ensaios e manifestações. Não há mais fronteiras ideológi­cas entre elas: todos se valem do prestígio de seu conteúdo. Ante seu pronunciamento, os ouvidos se amparam em certa insensibilidade, pois acredita-se não mais haver necessidade dessa reiteração. Além de cansativa, seria desnecessária. Os conceitos já teriam sido adequa­damente assimilados. 

O núcleo comum a todas essas palavras é sua evidente carga emotiva. São expressões que se impregnam de sentimento. Distan­ciam-se do sentido racional. Não guardam enunciado singelo. En­cerram a complexidade própria às questões ditas filosóficas. Refor­çam a convicção "de que o objeto próprio da filosofia é o estudo sistemático das noções confusas. Com efeito, quanto mais uma noção simboliza um valor, quanto mais numerosos são os sentidos conceituais que tentam defini-Ia, mais confusa ela parece".[1]

Entretanto, nunca foi tão urgente, como hoje se evidencia, rea­bilitar a ÉTICA. A crise da Humanidade é uma crise de ordem mo­ral. Os descaminhos da criatura humana, refletidos na violência, na exclusão, no egoísmo e na indiferença pela sorte do semelhante, assentam-se na perda de valores morais. A insensibilidade no trato com a natureza denota a contaminação da consciência humana pelo vírus da mais cruel insensatez. É paradoxal assistir à proclamação enfática dos direitos humanos, simultânea à intensificação do des­respeito por todos eles. De pouco vale reconhecer a dignidade da pessoa, insculpida como princípio fundamental da República, se a conduta pessoal não consegue se pautar por ela. 

Somente se vier a ser recomposto o referencial de valores bási­cos de orientação do comportamento, é que será viável a formulação de um futuro mais promissor para a humanidade, perplexa diante de um inesgotável incremento das descobertas científicas, a domi­nar tecnologias as mais avançadas mas ainda envolta no drama da incapacidade de superação das angústias primárias. 

Prometia-se um terceiro milênio de paz, harmonia e ócio sau­dável. Em lugar disso, o inesperado surge para aturdir. Violência e medo se aliam para trazer desconforto à alma e a sólida sensa­ção de falência da moral. Não foi apenas o 11 de setembro de 2001 a mostrar a vulnerabilidade de todos os esquemas de uma inviável segurança. São Paulo, a unidade mais desenvolvida da Federação, teve o seu dia fatídico em 15 de maio de 2006[2]. Reforçar o aparelho repressivo, construir mais presídios, reduzir a maioridade penal, agravar as penas, tudo isso representa paliativo para os efeitos. Mui­to mais difícil é combater as causas. Dentre estas, não é menor a in­suficiência do papel familiar de transmissão de valores, de formador da cidadania, de edificação de uma nova elite moral. A incompetên­cia da educação para incluir a vasta legião daqueles chamados "ex­cluídos" mas que, na verdade, nunca chegaram a ser incluídos na sociedade cidadã, é outro fator de imprescindível enfrentamento. Permeia a todas as análises a carência ética de uma sociedade cada vez mais egoísta, materialista e consumista. Despertá-la para uma responsabilidade individual, cidadã e social é o papel da ÉTICA neste terceiro milênio, que não parece corresponder às expectativas dos otimistas, mas reservar prenúncios nada animadores para a família humana. 

1.2 Conceito de Ética 

Ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade.[3] É uma ciência, pois tem objeto próprio, leis próprias e método próprio, na singela identificação do caráter científico de um determinado ramo do conhecimento.[4] O objeto da Ética é a moral. A moral é um dos aspectos do comportamento humano. A expressão moral deriva da palavra romana mores, com o sentido de costumes, conjunto de normas adquiridas pelo hábito reiterado de sua prática. 

Com exatidão maior, o objeto da ética é a moralidade positiva, ou seja, "o conjunto de regras de comportamento e formas de vida através das quais tende o homem a realizar o valor do bem".[5] A dis­tinção conceitual não elimina o uso corrente das duas expressões como intercambiáveis. A origem etimológica de Ética é o vocábulo grego "ethos", a significar "morada", "lugar onde se habita". Mas também quer dizer "modo de ser" ou "caráter". Esse "modo de ser" é a aquisição de características resultantes da nossa forma de vida. A reiteração de certos hábitos nos faz virtuosos ou viciados. Dessa for­ma, "o ethos é o caráter impresso na alma por hábito".[6] Como os hábitos se sucedem, tornam-se por sua vez fonte de novos hábitos. O caráter seria essa segunda natureza que os homens adquirem me­diante a reiteração de conduta. 

Sob essa vertente, "moral" e "ética" significam algo muito se­melhante. Por isso a aparente sinonímia das expressões "valor mo­ral" e "valor ético", "normas morais" e "normas éticas". Todavia, a conceituação de ética ora adotada autoriza distingui-Ia da moral, pese embora aparente identidade etimológica de significado. Ethos, em grego, e mos, em latim, querem dizer costume. Nesse sentido, a ética seria uma teoria dos costumes. Ou melhor, a ética é a ciência dos costumes. Já a moral não é ciência, senão objeto da ciência. Como ciência, a ética procura extrair dos fatos morais os princípios gerais a eles aplicáveis. "Enquanto conhecimento científico, a ética deve aspirar à racionalidade e objetividade mais completas e, ao mesmo tempo, deve proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e, no limite do possível, comprováveis. "[7]

Poder-se-ia mesmo indagar: "Por que, aliás, ética e não moral? 

Impõem-se aqui algumas definições, suficientemente abertas e fle­xíveis, para não congelar, desde o princípio, a análise. A etimologia não poderia nos guiar em nada nesta tarefa: ta êthé (em grego, os costumes) e mores (em latim, hábitos) possuem, com efeito, acepções muito próximas uma da outra: se o termo 'ética' é de origem grega e o moral, de origem latina, ambos remetem a conteúdos vizinhos, à idéia de costumes, de hábitos, de modos de agir determinados pelo USO".[8] A distinção mais compreensível entre ambas seria a de que ética reveste conteúdo mais teórico do que a moral. Pretende-se a ética mais direcionada a uma reflexão sobre os fundamentos do que a moral, de sentido mais pragmático. O que designaria a ética seria não ape­nas uma moral, conjunto de regras próprias de uma cultura, mas uma verdadeira "metamoral", uma doutrina situada além da moral. Daí a primazia da ética sobre a moral: a ética é desconstrutora e fundado­ra, enunciadora de princípios ou de fundamentos últimos. 

A ética é uma disciplina normativa, não por criar normas, mas por descobri-Ias e elucidá-Ias. Seu conteúdo mostra às pessoas os valores e princípios que devem nortear sua existência. A Ética apri­mora e desenvolve o sentido moral do comportamento e influencia a conduta humana.[9] Aliás, identificar as tarefas da Ética pode clarificar o seu conceito. Para Adela Cortina, "entre as tarefas da ética como filosofia moral são essenciais as que seguem: 1) elucidar em que consiste o moral, que não se identifica com os restantes saberes práticos (com o jurídico, o político ou o religioso), ainda esteja estreitamente conectado com eles; 2) tentar fundamentar o moral; ou seja, inquirir as razões para que haja moral ou denunciar que não as há. Distintos modelos filosóficos, valendo-se de métodos especí­ficos, oferecem respostas diversas, que vão desde afirmar a impossi­bilidade ou inclusive a indesejabilidade de fundamentar racionalmen­te o moral, até oferecer um fundamento; 3) tentar uma aplicação dos princípios éticos descobertos aos distintos âmbitos da vida cotidiana".[10]

Se a ética é a doutrina do valor do bem e da conduta humana que tem por objetivo realizar esse valor,[11] a nossa ciência "não é se­não uma das formas de atualização ou de experiência de valores ou, por outras palavras, um dos aspectos da Axiologia ou Teoria dos Valores”.[12] Assim, o complexo de normas éticas se alicerça em valo­res, normalmente designados valores do bom. Há conexão indisso­lúvel entre o dever e o valioso. Pois à pergunta o que devemos fazer? só se poderá responder depois de saber a resposta à indagação o que é valioso na vida?[13]

Toda norma pressupõe uma valoração e, ao apreciá-la, surge o conceito do bom - correspondente ao valioso - e do mau - no senti­do de desvalioso. E norma é regra de conduta que postula dever.[14] Todo juízo normativo é regra de conduta, mas nem toda regra de conduta é uma norma, pois algumas das regras de conduta têm cará­ter obrigatório, enquanto outras são facultativas. As regras a serem observadas para acessar a internet ou para viabilizar um programa de software, por exemplo, são de ordem prática e exprimem uma ne­cessidade condicionada.[15] Elas se incluem no conceito de regras técnicas, ou seja, preceitos que assinalam meios para a obtenção de finalidades. As regras técnicas contrapõem-se as normas, pre­ceitos cuja observância implica um dever para o destinatário. 

A noção de norma pode precisar-se com clareza se comparada com a de lei natural, lembra García Máynez. As leis naturais, ou leis físicas, são juízos enunciativos que assinalam relações constantes entre os fenômenos. Sob o enfoque da finalidade, as leis físicas têm fim explicativo e as normas têm fim prático. As normas não preten­dem explicar nada, mas provocar um comportamento. As leis físi­cas, ao contrário, referem-se à ordem da realidade e tratam de torná-la compreensível. O investigador da natureza não faz juízos de valor. Simplesmente se pergunta a que leis obedecem os fenômenos. Ao formulador de normas do comportamento não importa o proceder real da pessoa, senão a explicitação dos princípios a que sua ativida­de deve estar sujeita.[16]

A norma exprime um dever e se dirige a seres capazes de cum­pri-Ia ou de violá-la. Sustenta-a o suposto filosófico da liberdade. Se o indivíduo não pudesse deixar de fazer o que ela prescreve, não seria norma genuína, mas lei natural. De maneira análoga, careceria de sentido declarar que a distância mais curta entre dois pontos deve ser a linha reta, porque isso não é obrigatório, senão necessário e evidente. É da essência da norma a possibilidade de sua violação. 

Outra diferença pode ser apontada entre a norma e a lei natu­ral ou física. A lei física é suscetível de ser provada pelos fatos e a norma vale independentemente de sua violação ou observância. A ordem normativa é insuscetível de comprovação empírica. "As nor­mas não valem enquanto são eficazes, senão na medida em que expressam um dever ser."[17] Aquilo que deve ser pode não haver sido, não ser atualmente nem chegar a ser nunca, mas perdurará como algo obrigatório. 

Torna-se mais fácil compreender a distinção quando se acena com o ideal da paz perpétua ou da absoluta harmonia entre os ho­mens. É quase certo não se convertam nunca em realidade, mas a aspiração a atingi-Ias é plenamente justificável, pois tendente a con­cretizar algo valioso. Não há relação necessária entre validez e eficá­cia da norma. "A validez dos preceitos reitores da ação humana não está condicionada por sua eficácia, nem pode ser destruída pelo fato de que sejam infringidos. A norma que é violada segue sendo norma, e o imperativo que nos manda ser sinceros conserva sua obriga­toriedade apesar dos mendazes e dos hipócritas. Por isso se diz que as exceções à eficácia de uma norma não são exceções à sua validez."[18] Já as leis naturais, só se validam se a experiência as não desmente. 

A possibilidade de inobservância, infringência ou indiferença humana pelas normas não deve desalentar aqueles que acreditam na sua imprescindibilidade para conferir sentido à existência. O homem é um ser perfectível. Esse pressuposto adquire relevância extrema numa era em que as criaturas se comportam em desacordo com as normas. Pese embora a multiplicação de maus exemplos, a crença é a de que todo ser humano - por integrar a espécie - pode tornar-se cada dia melhor. E essa é sua vocação espontânea. A criatura tende naturalmente para o bem. O papel confiado aos cultores da ciência normativa é reforçar essa tendência, fazendo reduzir o nível de ino­bservância, infringência ou indiferença perante a ordem do dever ser. Ainda que o índice de espontâneo cumprimento dos ditames éticos não seja o ideal, há sempre possibilidade de sua otimização, mediante o compromisso íntimo de observá-los na vida individual. E o grupo tem de atuar no sentido de estimular a boa prática, no auxílio àquele que se afastou do trajeto, para reconduzi-lo à senda original. 

A potencialidade de conversão de um ser humano - aparente­mente vulnerável-, para comportar-se eticamente em seu universo, é uma hipótese significativa de trabalho. Ainda que aparentemente a prática possa demonstrar o contrário, a humanidade só avança se uma grande maioria se convencer de que o homem pode ser recupe­rado. A luta da parcela sensível da humanidade é ampliar esse espa­ço de trabalho comunitário e por diminuto possa parecer tal espaço, tantos e tão desalentadores os maus exemplos, o bom combate con­tinua válido. Sob esse prisma, se justifica o estudo, a pregação e a vivência ética. 

1.3 Moral absoluta ou relativa? 

Moral é expressão que todos conhecem. Adela Cortina subli­nha que "o moral, mais que a moral, posto se tratar de um fenômeno e não de uma doutrina - acompanha a vida dos homens e é captado pela reflexão filosófica em várias dimensões”.[19] Na filosofia do ser, a dimensão humana pode ser definida como dimensão moral; na filo­sofia da consciência, fala-se em consciência moral e aceita-se mesmo um tipo de linguagem que pode ser identificada como linguagem moral. Integram essa linguagem expressões de uso corrente, como justo, mentira, lealdade. É intuitiva a qualquer pessoa considerada normal, a compreensão do que se pretende dizer quando se pronun­cia a palavra moral. 

A intuição moral é tão presente na consciência humana que se pode sustentar carecer de sentido a expressão amoralismo. Ou seja, "pode haver homens imorais em relação a determinados códigos vigentes, mas não existem homens 'amorais', não existem homens para os quais careça de sentido a linguagem moral".[20] Todos têm uma determinada moral e a qualquer pessoa é importante manter preser­vado o seu moral. Para simplificar, moral é a formação do caráter individual. É aquilo que leva as pessoas a enfrentar a vida com um estado de ânimo capaz de enfrentar os revezes da existência. 

Mas tome-se à moral como objeto da ética. A moral como maté­ria-prima desta ciência do comportamento das pessoas em sociedade. 

Os preceitos éticos são imperativos. Para serem racionalmente aceitos pelos destinatários, precisam estes acreditar derivem de justi­ficativa consistente. A norma de conduta moral provém de um valor objetivo ou decorre de uma fixação arbitrária? Ela é norma válida para todos, em todos os tempos e lugares, ou sua validade é histori­camente condicionada? 

Existem ao menos duas posições antagônicas: uma absolutis­ta e apriorista e outra re1ativista e empirista. De acordo com esta, a norma ética tem vigência puramente convencional e é mutável. De acordo com a primeira, a validez é atemporal e absoluta. Uma outra diferença entre ambas: a corrente absolutista proclama o conheci­mento da norma ética a priori. A relativista acredita 'seja de ordem empírica. O empirismo advoga a existência de várias morais e, por­tanto, do subjetivismo. O absolutismo, em lugar disso, propõe a moral universal objetiva. 

Para o absolutista, cada ser humano - ao menos o humano con­siderado normal pelo senso comum, ou seja, poupado de qualquer estado patológico - é provido de certa bússola natural que o predis­põe a discernir, naturalmente, entre o que é certo ou errado. A figura do semáforo moral é elucidativa. Cada pessoa dotada de um míni­mo de consciência já se defrontou com esse fenômeno íntimo. Em oportunidades múltiplas da existência, a pessoa sabe que precisa se definir e optar. Sente-se e identifica-se um sinal verde a indicar pas­sagem livre, um sinal amarelo a determinar precaução e uma luz vermelha com o significado de vedação. Cada pessoa sabe que tanto pode observar como deixar de atender aos sinais. Basta atentar para a sua consciência estimativa, onde reside o seu sentido de valor. Por isso é que, entendendo-a como sensação, Hemingway conceituou moral de maneira bem compreensível, como aquilo "que nos faz sentir-nos bem depois e imoral aquilo que nos faz sentir-nos mal depois".[21]

Não se poderia falar do bom e do mau, da virtude e do vício, não houvesse um critério de estimação e uma instância - a consciên­cia humana - capaz de intuir o que vale. Sem essa noção, não há como prosseguir no estudo da ética. 

Já os relativistas entendem não haver sentido falar-se em valo­res à margem da subjetividade humana. Cada qual saberia estabele­cer a sua hierarquia valorativa, de acordo com as circunstâncias personalíssimas. O bom e o mau não significam algo que valha por si, mas são palavras cujo conteúdo é condicionado por referenciais de tempo e espaço. O bem é fruto de criação subjetiva e a norma moral é mero convencionalismo. 

O resultado dessa contraposição de idéias é que "a tese objeti­vista conduz, no terreno epistemológico, à conclusão de que não há criação nem transmutação de valores, senão descobrimento ou ig­norância dos mesmos. Os valores não se criam nem se transformam; se descobrem ou se ignoram. Uma das missões capitais da ética con­siste precisamente em afinar no homem o órgão moral que torna possível tal descobrimento".[22] Enquanto isso, a tese subjetivista postula autêntica criação de valores por vontade dos homens. Estes formulam, à medida do necessário ou do oportuno, a escala que lhes servirá de parâmetro na conduta inserta naquele momento histórico e de acordo com o estamento a que pertencerem, além de outros fato­res condicionantes da opção concreta em cada oportunidade. 

O desafio é perene e deve trazer ao menos certa angústia ao homem imerso numa sociedade em que o relativismo abrange di­mensões inesperadas. Uma das características da contemporaneida­de é conferir ao foro íntimo uma supervalia. Como se todas as escolhas se justificassem diante da irrestrita autonomia da vontade. À pessoa ética deveria corresponder uma conduta compatível com um núcleo comum de valores, consensualmente aceitos e com permanência na história da humanidade, em lugar da lassidão extrema dos achismos. A legitimar-se toda e qualquer ação, em nome da liberdade de esco­lha, corresponderá a deslegitimação da normatividade. Não apenas na esfera ética, mas na sua expressão jurídica. Seria a porta de retor­no ao caos e à barbárie. 

BIBLIOGRAFIA: 
NALINI, José Renato. Conceito de Ética. In: _________ . Ética Geral e Profissional. 5.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. Cap 1. P.23-33. 

[1] CHAIM PERELMAN, Ética e direito, 1996, p. 6. 
[2] No dia 15 de maio de 2006, rebeliões e atentados coordenados na Capital e em várias cidades do interior paulista demonstraram o poder de ar­ticulação da criminalidade e trouxeram pânico à população. As causas das ocorrências ainda merecem análises mas, de qualquer forma, foi manifes­ta a percepção de que não existe incolumidade inexpugnável e que o mal tem condições de semear o terror a qualquer momento, em todos os luga­res, e atingir, simultaneamente, incluídos e não incluídos. Os episódios não se circunscreveram a São Paulo, mas também foram deflagrados no Paraná e no Mato Grosso, dentre outros Estados. Mas os efeitos paulistas fo­ram catastróficos por manterem aprisionada, em seus refúgios domésticos, uma população cosmopolita de milhões de brasileiros. 
[3] ADOLFO SÁNCHEZ V ÁZQUEZ, Ética, p. 12. Para o autor, Ética seria a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. 
[4] Ciência, recorda MIGUEL REALE, é termo que "pode ser tomado em duas acepções fundamentais distintas: a) como 'todo conjunto de conhecimen­tos ordenados coerentemente segundo princípios'; b) como 'todo conjunto de conhecimentos dotados de certeza por se fundar em relações objeti­vas, confirmadas por métodos de verificação definida, suscetível de levar quantos os cultivam a conclusões ou resultados concordantes'" (Fíloso­fia do direito, p. 73, ao citar o Vocabulaire de Ia phílosophie, de LALANDE). 
[5] EDUARDO GARCÍA MÁYNEZ, Ética - Ética empírica. Ética de bens. Ética for­mal. Ética valorativa, p. 12. 
[6] ADELA CORTINA, Ética aplicada y democracia radical, p. 162. 
[7] ADOLFO SÁNCHEZ V ÁZQUEZ, op. cit., p. 13. 
[8] JACQUELINE Russ, Pensamento ético contemporâneo, p. 7-8. 
[9] NICOLAI HARTMANN, Ethik, 2. ed., Berlin, p. 34, apud EDUARDO GARCÍA MÁYNEZ, op. cit., p. 15. 
[10] Op. cit., p. 164. 
[11] MIGUEL REALE, Filosofia ... cit., p. 37. 
[12] Idem, ibidem. 
[13] "Todo dever ser está fundado sobre os valores; ao contrário, os valores não estão fundados, de nenhum modo, sobre o dever ser" (MAX SCHELER, Ética, trad. Hilario Rodríguez Sanz. Madrid: Revista de Occidente, 1941, p. 267, apud EDUARDO GARCÍA MÁYNEZ, Ética ... cir., p. 16). 
[14] Idem, p. 19. 
[15] R. LAUN, Rechtund Sittlichkeit, 2. ed., Hamburg: Verlag vou C. Boysen, 1927, apud EDUARDO GARCÍA MÁYNEZ, Ética ... cit., p. 20. 
[16] Idem, p. 21. 
[17] Idem, p. 22. 
[18] Idem, p. 23. 
[19] Op. Cit., p.178 
[20] ADELA CORTINA (op. cit., p. 178), a sustentar que amoralismo é um conceito vazio. Não há homens amorais porque todos compreendem a linguagem moral. Para quem pretende aprofundar-se no tema, consultar X. ZUBIRI, Sobre o homem, Madrid: Alianza, 1986. 
[21] Morte na tarde, citado por MAURÍCIO ANTONIO RIBEiRO LOPES, Ética e adminis­tração pública, p. 14. 
[22] EDUARDO GARCÍA MÁYNEZ, Ética ... cit., p. 26.

Resenha: Um Corpo Estranho: Ensaios Sobre Sexualidade e Teoria Queer

Louro, Guacira Lopes. (2004). Um Corpo Estranho: Ensaios Sobre Sexualidade e Teoria Queer. Belo Horizonte: Autêntica. ISBN 85-7526-1169, Pp. 92



Resenhado por Ruth Sabat
Centro Universitário Feevale
12 de Maio de 2005





Uma viagem pós-moderna

Para saciar nossa “angústia metafísica”, que tem sede de classificações, poderíamos dizer que o livro Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer, de Guacira Louro, é uma autobiografia-lítero-teórica. Poderíamos dizer, se tal palavra existisse... Façamos de conta que existe!

Os quatro ensaios que compõem o livro de Guacira Louro foram escritos de forma livre, “numa espécie de experimentação”. Não há um caminho em linha reta entre eles, mas há um caminho sem placas indicativas do ponto de chegada ou de partida. É um caminho queer: o meio pode ser o fim, o fim pode ser o começo, o começo pode ser o começo. Nós decidimos. Não há uma ordem. É queer. A começar pela capa, que traz a imagem de dois pés tatuados na epiderme/derme ou na folha de papel? Marcas estranhas, indizíveis... Preparação para o que vem a seguir.

Para ler Um corpo estranho é preciso estar disposta a se deixar levar pela autora, numa espécie de brincadeira de cabra-cega, com olhos vendados e sentidos despertos, pronta para ouvir suas histórias. Uma espécie de viagem pós-moderna. Um road book?
Talvez sim, porque o livro é todo deslocamento e inquietação, seja no ensaio com tom mais literário, no qual Guacira deixa escapar sua paixão pelo cinema; seja no ensaio mais teórico, no qual ela generosamente traduz para nós a complexa fundamentação da teoria queer. A autora também nos dá a conhecer um pouco de sua trajetória ao “Estranhar” o currículo e estabelece relações entre Marcas do corpo e marcas do poder, questionando até que ponto tais marcas não são uma invenção do olhar do outro.

Neste último ensaio do livro, Marcas do corpo, marcas do poder, Guacira demonstra de que formas os corpos e as marcas que os definem e descrevem culturalmente estão implicadas em relações de poder. Dessas marcas, é indiscutível que aquelas que identificam o feminino e o masculino (a saber, os órgãos genitais) são primordiais.

Entretanto, agregadas a elas estão as marcas definidas “a partir dos padrões e referências, das normas, valores e ideais da cultura” (p.75). E é isso que interessa à autora: demonstrar de que forma as características corporais passam a funcionar como marcas de distinção e classificação e, conseqüentemente, como marcas de poder, considerando suas características históricas e culturais.

Buscando apoio teórico em Michel Foucault e Judith Butler, Guacira Louro traz diferentes explicações encontradas na história, que serviram para justificar as desigualdades construídas entre mulheres e homens. Se nos voltamos para os discursos existentes, podemos identificar relações estreitas entre transformações políticas, econômicas e sociais e o modo de olhar para o corpo e a sexualidade em diferentes momentos históricos. Longe de negar a materialidade dos corpos, o que a autora enfatiza:
“são os processos e as práticas discursivas que fazem com que aspectos dos corpos se convertam em definidores de gênero e de sexualidade e, como conseqüência, acabem por se converter em definidores dos sujeitos” (p.80).

Tal asserção pode ser identificada na forma mais recorrente de se conceber a relação sexo/gênero/sexualidade, qual seja, o gênero binário e o desejo sexual necessariamente direcionado para o sexo oposto; esta lógica fundamenta-se, principalmente, no caráter biológico do sexo. Eis aqui a pedra de toque a ser problematizada pela autora, com base nas teorizações da filósofa norte-americana Judith Butler. É preciso questionar a naturalização construída em torno do sexo como destino e as normas regulatórias que legitimam os corpos, como efeitos das relações de poder.

Guacira Louro vale-se do exemplo das drag-queens para ilustrar a desnaturalização dos corpos.

Quando William Sheakspeare escrevia suas peças e utilizava a palavra drag (dressed as a girl), em algumas rubricas do texto para dirigir os atores, não podia imaginar que no século XX esse nome se transformaria em uma das marcas queer. Ao utilizar as drags como exemplo, a autora demonstra como corpos são construídos ou “montados”, imitando exageradamente o sujeito que parodia. Para a autora, esta é uma postura crítica, “na medida em que implica, paradoxalmente, a identificação e o distanciamento em relação ao objeto ou ao sujeito parodiado” (p.85) e, nos permite “problematizar a idéia de originalidade ou de autenticidade”, subverter e transgredir códigos culturais.
A ação subversiva e a transgressão das fronteiras de gênero e de sexualidade são alguns dos principais elementos que permeiam a Teoria Queer. No artigo Uma política pósidentitária para a Educação, Guacira apresenta os pontos centrais dessa teoria, estabelecendo conexões com a Educação, seu campo de atuação. Por meio de breve historicização da homossexualidade, do sujeito homossexual e dos movimentos sociais voltados para os interesses desses grupos, a autora narra o processo de construção das políticas de identidade e nos conduz aos fundamentos da Teoria Queer.

A palavra queer é de origem inglesa e ainda não tem uma tradução a contento para sua utilização nos estudos sobre sexualidade realizados em língua portuguesa. Durante muito tempo, queer funcionou como xingamento para sujeitos homossexuais. Entretanto, num movimento de pegar as armas do inimigo para atacá-lo, o movimento gay e lésbico assumiu esta palavra para se definir ainda como esquisito, estranho, excêntrico, mas, principalmente, para representar “a diferença que não quer ser assimilada ou tolerada” (p.38). A firme determinação de perturbar e transgredir está no cerne da política queer, surgida na década de 90 do século passado. Neste artigo, Guacira deixa muito clara a indissociabilidade entre o comprometimento político e a produção de conhecimento, ao deixar explícitos todas as confluências entre os movimentos sociais e o pensamento ocidental contemporâneo, marcado pela instabilidade de diversas categorias analíticas, dentre elas, o próprio sujeito.

O inconsciente freudiano, a construção discursiva da sexualidade defendida por Michel Foucault, a desconstrução derridiana são as principais proposições que servem de sustentação para a Teoria Queer, desde que utilizadas sempre de modo peculiar e transgressivo. Dito de outro modo, utilizadas “para desarranjar e subverter noções e expectativas” (p.43). Esse percurso traçado pela autora nos leva à Teoria Performativa do Gênero e da Sexualidade – elaborada por Judith Butler –, um dos fundamentos da Teoria Queer. Nesse contexto, o conceito de performatividade, proveniente da lingüística, é utilizado para identificar os modos como os corpos e os sujeitos são discursivamente produzidos. Interessa menos saber como as identidades sexuais hegemônicas são produzidas, e mais, como determinados sujeitos e corpos são nomeados como estranhos, anormais, esquisitos ou queer.

Diante de tais aspectos, a autora traz algumas perguntas: “Como um movimento que se remete ao estranho e ao excêntrico pode articular-se com a Educação, tradicionalmente o espaço da normalização e do ajustamento? Como uma teoria não propositiva pode ‘falar’ a um campo que vive de projetos e de programas, de intenções, objetivos e planos de ação? 

Qual o espaço, nesse campo usualmente voltado ao disciplinamento e à regra, para a transgressão e para a contestação?” (p.47). Mais uma vez, Guacira nos conduz pelos tortuosos caminhos da lógica queer, indicando alternativas de movimentos na intersecção desses dois campos: “A teoria queer permite pensar a ambiguidade  a multiplicidade e a fluidez das identidades sexuais e de gênero, mas, além disso, também sugere novas formas de pensar a cultura, o conhecimento, o poder e a
educação” (p.47). Portanto, este é o exercício maior: estabelecer relações entre Teoria Queer e Educação e pensar como se configuraria uma pedagogia e um currículo queer.
Um exercício nessa direção pode ser encontrado no artigo “Estranhar” o currículo.

Ali, a autora discute em que medida a homossexualidade se torna um limite para o pensamento social construcionista na Educação, questionando de que modo a heterossexualidade normativa é reiterada nas chamadas instâncias pedagógicas.
Estudantes que apresentam comportamentos dissonantes em relação a seus gêneros ou que demonstram interesse por pessoas do mesmo sexo são sempre trazidos por professoras e professores, como exemplos de problemas a serem resolvidos. De novo, a Teoria Queer é utilizada como campo teórico mais produtivo para pensar em tais questões, considerando as rupturas epistemológicas e as propostas que nos traz.

Nessa direção o movimento mais importante consiste em colocar o conhecimento, a pedagogia, o currículo sob suspeita. Como afirma a autora, trata-se “de questionar sobre as condições que permitem (ou que impedem) o conhecimento” (p.65).
Trata-se, ainda, de questionar o tipo de sujeito presente no currículo, analisando o gênero, a sexualidade e outras marcas culturais que o constituem como sujeito hegemônico. Trazer para o currículo a multiplicidade, questionar o já sabido, problematizar o conhecimento são apenas alguns dos caminhos apontados pela autora em direção a um currículo menos centralizador e impositivo. Um currículo que apresente o movimento, a instabilidade e a transgressão como estados produtivos para os sujeitos.

A idéia de movimento, instabilidade, transgressão é desenvolvida em Viajantes pós-modernos, a partir do filme Deus é brasileiro, de Cacá Diegues. “A imagem da viagem me serve, na medida em que a ela se agregam idéias de deslocamento, desenraizamento, trânsito” (p.13), diz Guacira. A metáfora da viagem é utilizada aí relacionada ao gênero, à sexualidade e ao trabalho pedagógico. É por meio da repetição e da continuidade que o trabalho pedagógico funciona constantemente para inscrever “nos corpos o gênero e a sexualidade ‘legítimos’” (p.16). Mas, nesse cenário, há também os corpos desviantes, aqueles que desestabilizam as normas sociais, há aqueles cruzam as fronteiras de gênero e sexuais e, há ainda, aqueles sujeitos que decidem viver na própria fronteira em transgressão permanente. “Esses sujeitos sugerem uma ampliação nas possibilidades de ser e de viver. (...) Indicam que o processo de se ‘fazer’ como sujeito pode ser experimentado com intensidade e prazer. Fazem pensar para além dos limites conhecidos, para além dos limites pensáveis” (p.23). E se terminamos de ler Um corpo estranho... com dúvidas, inquietações e incômodos, isso quer dizer que embarcamos na viagem proposta por Guacira Louro.

Acerca da Autora do Livro
 Guacira Lopes Louro é doutora em Educação e professora do Programa de Pós-graduação em educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Acerca da Autora da resenha
Ruth Sabat é doutora em Educação e professora/pesquisadora do Centro Universitário Feevale – Novo Hamburgo/RS e da Faculdade Cenecista de Osório, Facos – Osório/RS.

José Botelho Netto - biografia



"Através da beleza do preto e branco, o fotojornalista Botelho Netto, também professor, também pai, também marido e também amigo, discutia em seus projetos fotográficos a linguagem da imagem captada".



Botelho Netto é paulista da cidade de Cachoeira Paulista, nascido no dia quinze de janeiro de 1921. Nasceu na Rua Silva Caldas, s/n e morreu na Rua Carlos Pinto, 130, curiosamente na mesma casa, na cidade de Cachoeira Paulista, dia 09 de outubro de 2001. Era o mais velho de quatro irmãos. Ia se chamar Cirilo, mas o seu tio, pai de sua esposa, esqueceu o nome quando estava no cartório e tascou-lhe um José. Seu pai, Antonio Botelho, era chefe de estação e ficava entre Rio e São Paulo e foi em Suzano que fixaram residência. Morava no Torreão do meio.

Zizinho para os amigos, para a esposa, para a turma do ginásio cachoeirense onde ele entrou aos trinta anos para não ser o “marido da professora” e ter sua própria personalidade. Botelho para os colegas de trabalho, para os amigos da faculdade onde aprendeu a amar a linguística, a semiótica, a história da arte. 

Com a esposa, Ruth Guimarães, teve 9 filhos. Uma tal de síndrome de Alport atacou a família mas nem todos manifestaram a doença. Esse casal foi companheiro na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Enquanto moraram em Cachoeira ele era o fotógrafo dos casamentos, dos batizados, dos noivados, dos “anjinhos”. Na praça tinha um alto-falante com sua propaganda: “Você é feio? Isso não é problema para o Zizinho do foto Marta.”

Vieram para São Paulo com os 4 filhos mais novos crescidos, dos nove que tiveram, para dar a estes chances que a cidade pequena não oferecia. Prestou concurso, foi ser professor no Campo Belo, longe léguas da Adma Jafet, travessinha da 9 de julho, em frente ao hospital Sírio Libanês, onde morava. Por quê? Porque se apaixonou pelo nome da rua: “Feitiço da Vila”.

Era apaixonado pelo que fazia. Era professor. Educador. Ensinava a ver. Ensinava fotografia com a técnica da latinha e o furo da agulha. Levava seus alunos para o alto das montanhas, para as trilhas, mandava tirar os sapatos, sentir a grama e a terra. Ensinava os meninos do ginásio fazendo coral de poesias, contando histórias, jogando truco. Ensinava os filhos no cinema falando de composição, triângulo de ouro, foco, luz, cor, saturação. Ensinou a faculdade onde estudou, a Fatea, a montar seu próprio laboratório. E quase passou cimento nos tijolos junto, para mostrar como deveria ser o melhor laboratório do mundo. Era engajado, consciente, e todos eram seus alunos em qualquer conversa que houvesse. Porque sua missão era ensinar. Fazia saraus em sua casa para juntar os amigos linguistas, filósofos, comunistas, poetas, jornalistas, folcloristas, cantadores. O violão levava às discussões e as discussões viravam cantoria. 

Tinha tanta cantoria que animou um grupo de violão e cavaquinho e flauta, com o Bolacha, o Nilton Roseira, e outros, que se chamou “Os Velhinhos Transviados”. E fizeram sucesso até na capital!

Esse homem foi boêmio, fotógrafo, professor, educador, ambientalista. Mas principalmente fotógrafo, e fotógrafo-poeta. Um artista.


Texto de Júnia (carinhosamente chamada de Juninha, Junica), a caçula dos 9.

terça-feira, 12 de março de 2013

O que é o método VANCOUVER e qual a diferença para a ABNT?

Alguns desenvolvimentos de monográficos utilizam o método Vancouver de exposição. Para ficarmos mais cientes dessa metodologia de escrita monográfica, vejamos os seguintes dados. 

Quando se desenvolve um trabalho monográfico a partir do método Vancouver, alguns preceitos são seguidos. São estabelecidos pela normalização do grupo Vancouver. 

• VANCOUVER 

As informações a seguir foram retiradas do site http://www.icmje.org, onde se pode obter gratuitamente todas as normas do Grupo Vancouver. 

Regras básicas 

_ Referencias devem ser numeradas consecutivamente em ordem que elas primeiro aparecem no texto. 

_ São identificadas no texto, tabelas e legendas com números arábicos entre parênteses. Exemplo: “Desafio é a pimenta da vida (1)” ou “...o gene que condiciona esta doença (2)”. Obs: deve-se escolher um estilo (sobrescrito ou não) e aplicá-lo em todo o texto. 

_ Referências citadas em tabelas ou legendas de figuras devem ser numeradas de acordo com a seqüência estabelecida pela primeira identificação no texto desta tabela ou figura particular 

• ABNT 

Conforme NBR 10520:2002, aplicam-se as seguintes definições: 

-citação - menção, no texto, de uma informação extraída de outra fonte; 

-citação direta - transcrição textual dos conceitos do autor 

consultado; 

-citação indireta - transcrição livre do texto do autor 

consultado; 

-citação da citação - transcrição direta ou indireta de um 

texto em que não se teve acesso ao original. 

Regras Gerais 

As citações devem ser indicadas no texto por um sistema numérico ou autor-data. Qualquer que seja o método adotado, deve ser seguido consistentemente ao longo de todo o trabalho, permitindo sua correlação na lista de referências ou em notas de rodapé. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

MARTINS, GA & LINTZ, A. Guia para a elaboração de monografias e trabalhos de conclusão de curso . Editora Atlas, 2000. 
http://www.icmje.org – Página em Inglês. Grupo de Editores de Vancouver que estabelecem normas de publicação para livros e trabalhos científicos. 
FILHO, DP & SANTOS, J.A . Apresentação de trabalhos científicos: Monografia – TCC – Teses – Dissertações. São Paulo: Futura, 2000.

Normas de Vancouver

COMISSÃO INTERNACIONAL DE EDITORES DE REVISTAS MÉDICAS

Membros da Comissão: Frank Davidson. Annals of Internal Medicine; Richard Smith. BMJ; Bruce P. Squires. Canadian Medical Association Journal; George Lundberg. JAMA; Richard Glass. JAMA: Richard Horton. Lancet; Martin Van Der Weyden. Medical Journal of Australia; Robert Utiger. New England Journal of Medicine; Richard G. Robinson. New Zealand Medical Journal; Magne Nylenna. Tidsskrift for Den Norske Laegeforening: Lois Ann Colaianni. US National Library of Medicine; Linda Hawes Clever. Western Journal of Medicine; e Patricia Woolf. Princeton University.

Um pequeno grupo de editores de revistas médicas generalistas reuniu informalmente em 1978 em Vancouver, na Colômbia Britânica, para fixar pautas para a formatação de manuscritos propostos para publicação nas suas revistas. Este grupo ficou conhecido como o Grupo de Vancouver. Os seus requisitos para manuscritos, incluindo formatos para referências bibliográficas desenvolvidos pela National Library of Medicine dos Estados Unidos da América (NLM), foram publicados pela primeira vez em 1979. O Grupo de Vancouver alargou-se e acabou por evoluir no sentido da constituição da Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas - International Commiftee of Medical Journal Editors (ICMJE) - que se reúne anualmente; a sua área de interesses foi gradualmente aumentando.

A Comissão produziu quatro edições das Normas para apresentação de artigos propostos para publicação em revistas médicas. Com o tempo, foram sendo abordados assuntos que ultrapassam a simples preparação de manuscritos. Alguns destes assuntos estão agora integrados nas Normas; outros são tratados em declarações separadas. Cada uma dessas declarações foi publicada numa revista científica. A quinta edição (1997) constitui um esforço para reorganizar e rescrever a quarta edição, no sentido de aumentar a clareza e responder a preocupações acerca de direitos, privacidade, descrições de métodos e outros assuntos. O conteúdo total das Normas pode ser reproduzido para fins educacionais, não lucrativos; a ICMJE estimula a sua distribuição. Às revistas que aceitam utilizar as Normas (mais de 500) é pedido que citem nas suas instruções aos autores o documento de 1997.

É importante enfatizar o que estas normas implicam e o que não implicam. 

Em primeiro lugar, as Normas são instruções para os autores sobre o modo como preparar manuscritos, e não instruções para os editores sobre o estilo de publicação. (No entanto muitas revistas basearam nelas partes dos seus estilos de publicação).

Em segundo lugar, se os autores prepararem os seus manuscritos de acordo com o estilo especificado nestas normas, os editores das revistas participantes não os devolverão para modificações de estilo sem previamente os considerarem para efeitos de publicação. No entanto, durante o processo de publicação, as revistas podem alterar manuscritos aceites, de modo a que fiquem de acordo com as características específicas do seu estilo de publicação. 

Em terceiro lugar, os autores que enviam manuscritos para uma revista participante não deveriam tentar prepará-Ios de acordo com o estilo de publicação dessa revista, mas deveriam seguir estas Normas.

Os autores devem também seguir as instruções aos autores da revista, no respeitante aos temas apropriados para essa revista e aos tipos de artigos que podem ser propostos para publicação - por exemplo, estudos originais, revisões, ou relatos de casos. Para além disto, as instruções da revista provavelmente incluem outros requisitos próprios de cada revista, tais como o número de cópias do manuscrito que é necessário enviar, línguas aceites, dimensão dos artigos, e abreviaturas aceites. 

Das revistas participantes espera-se que indiquem nas suas instruções aos autores que as suas normas estão de acordo com as Normas para apresentação de artigos propostos para publicação em revistas médicas, e que citem uma versão publicada destas.

QUESTÕES A CONSIDERAR ANTES DE ENVIAR UM MANUSCRITO

Publicação redundante ou repetida

Publicação redundante ou repetida é a publicação de um artigo que coincide substancialmente com outro já publicado.

Os leitores de periódicos de publicação primária merecem poder ter confiança em que o que estão a ler é original, a menos que haja uma informação clara de que, por escolha do autor ou do editor, o artigo é uma republicarão. As bases desta posição são as leis internacionais do direito de autor, as normas de ética, e o equilíbrio custo/efectividade dos recursos. 

A maior parte das revistas não quer receber artigos sobre trabalhos que já tenham sido divulgados em grande parte num artigo publicado, ou incluídos noutro artigo enviado ou aceite para publicação noutro local, em forma impressa ou por meios electrónicos. Esta política não impede a revista de considerar um artigo que tenha sido rejeitado por outra revista, ou um relatório completo que seja posterior à publicação de um relatório preliminar, como um resumo ou cartaz exposto para colegas numa reunião profissional. Também não impede as revistas de considerarem um artigo que tenha sido apresentado numa reunião científica mas não publicado na sua forma global, ou que aguarde publicação num livro de actos de conferência ou formato similar. Os relatórios de imprensa de reuniões científicas não serão em regra considerados quebras a esta regra, mas tais relatórios não devem incluir dados adicionais ou cópias de quadros ou ilustrações.

Quando apresenta um artigo para publicação, o autor deve sempre fazer uma declaração formal ao editor acerca de todos os pedidos de publicação ou modos de difusão previamente usados que possam ser considerados como publicação redundante ou repetida do mesmo trabalho, ou de um trabalho muito semelhante. O autor deve alertar o editor se o trabalho incluir assuntos acerca dos quais foi publicado um relatório anterior. Neste caso, tal relatório deverá ser citado e referenciado no novo artigo. Devem ser enviadas cópias do referido material acompanhando o artigo proposto para publicação, para permitir ao editor tomar uma decisão acerca do assunto.

No caso de haver tentativa ou ocorrer publicação redundante ou repetida sem que o autor tenha notificado o editor, é de esperar que haja uma reacção editorial. No mínimo é de prever urna rápida rejeição do manuscrito enviado. Se o editor não estava alertado para a violação e o artigo já foi publicado, então provavelmente será publicada uma notícia de publicação redundante ou repetida, com ou sem a justificação ou aprovação do autor.

O fornecimento prévio, geralmente para os meios de comunicação social, de informação científica descrita num artigo que já foi aceite mas ainda não publicado, viola as políticas de muitas revistas. Em alguns casos, e apenas por acordo com o editor, pode ser aceitável o fornecimento preliminar de dados - por exemplo se existe uma emergência de saúde pública.


Condições para aceitação de segunda publicação

A publicação secundária na mesma ou noutra língua, especialmente noutros países, é justificável e pode ser benéfica, desde que se verifiquem todas as seguintes condições:

1. Os autores receberam a aprovação dos editores de ambas as revistas, devendo o editor envolvido na publicação secundária ter uma fotocópia, separata ou manuscrito da versão primária.
2. A prioridade da publicação primária é respeitada por um intervalo de publicação de pelo menos uma semana (a menos que ambos os editores tenham negociado especialmente outra solução).
3. A revista na qual se faz a publicação secundária destina-se a um grupo diferente de leitores; uma versão abreviada poderá ser suficiente. 
4. A versão secundária reproduz fielmente os dados e interpretação da versão primária.
5. Uma nota de rodapé na página de título da versão secundária informa os leitores, pares e organizações de documentação que o artigo já foi publicado no todo ou em parte e indica a referência primária. Uma nota adequada poderá ser: "Este artigo é baseado num estudo divulgado anteriormente em [Nome da revista, com a referência completa]".

A autorização para a publicação secundária deve ser gratuita.

Protecção do direito dos pacientes à privacidade

Os pacientes têm um direito à privacidade que não deve ser infringido sem consentimento informado. A informação susceptível de permitir a identificação não deve ser publicada em descrições escritas, fotografias, e árvores genealógicas, a menos que a informação seja essencial para fins científicos e o paciente (ou familiar ou tutor) dê consentimento informado por escrito para a publicação. Para este efeito é necessário que ao paciente seja mostrado o manuscrito a publicar .

Os pormenores identificadores devem ser omitidos se não forem essenciais, mas os dados do paciente nunca devem ser alterados numa tentativa para conseguir o anonimato. O anonimato completo é difícil de conseguir, e em caso de dúvida deve obter-se o consentimento informado. Por exemplo, colocar uma máscara na zona dos olhos numa fotografia de pacientes é uma protecção de anonimato inadequada.

A norma para o consentimento informado deve ser incluída nas instruções aos autores da revista. Quando se obteve o consentimento informado, tal facto deve ser indicado no artigo publicado.

NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE MANUSCRITOS

Resumo dos requisitos técnicos
Dactilografar a dois espaços todas as partes do manuscrito.
Começar cada secção ou componente no início de uma página.
Rever a sequência: página de título, resumo e palavras chave, texto, agradecimentos, referências, quadros (um por página), legendas.
As ilustrações e provas não montadas não devem exceder 203-254 mm.
Incluir autorizações para reproduzir material publicado anteriormente ou para usar ilustrações que podem identificar pessoas.
Enviar autorização de transferência de direitos de autor e outros documentos. 
Enviar o número de cópias solicitado.
Guardar cópias de todo o material enviado.

Preparação do manuscrito

O texto de estudos observacionais e experimentais é em geral (mas não necessariamente) dividido em secções com os títulos Introdução, Métodos, Resultados, e Discussão. Os artigos extensos podem necessitar de subtítulos em algumas secções (em especial nas secções Resultados e Discussão) para tornar mais claro o seu conteúdo. Outros tipos de artigos, tais como relatos de casos, revisões, e editoriais, provavelmente adoptarão outros formatos. Os autores devem consultar cada revista para obter orientação mais detalhada.

Dactilografar ou imprimir o manuscrito em papel branco de boa qualidade com 216- 279 mm, ou lSO A4 (212-297 mm), com margens de 25 mm pelo menos. Dactilografar ou imprimir apenas num dos lados do papel. Usar duplo espaço em todo o artigo, inclusive na página de titulo, resumo, texto, agradecimentos, referências, quadros, e legendas. Numerar as páginas consecutivamente, começando na página de titulo. Colocar o número de página no canto superior ou inferior direito de cada página.


Manuscritos em disquetes

Para os artigos em fase final de aceitação para publicação, algumas revistas solicitam aos autores que enviem uma cópia em formato electrónico (numa disquete); podem aceitar uma série de formatos de processamento de texto ou ficheiros de texto (ASCII).

Quando enviarem disquetes, os autores devem:

(1) certificar-se de que incluem uma versão impressa do artigo contido na disquete,
(2) colocar na disquete apenas a última versão do manuscrito,
(3) intitular o ficheiro de modo claro,
(4) indicar na etiqueta da disquete o nome e formato do ficheiro.
(5) fornecer informação acerca do computador e da aplicação usados. 

Os autores devem consultar as instruções aos autores da revista, acerca dos formatos que esta aceita, convenções para intitular os ficheiros, número de cópias a fornecer, e outros pormenores.


Página de título

A página de titulo deverá incluir:

(a) o titulo do artigo, que deve ser conciso mas esclarecedor ,
(b) o nome pelo qual cada um dos autores é conhecido, com o seu grau académico mais elevado e a sua filiação institucional,
(c) o nome do departamento e a instituição ao qual o trabalho deve ser atribuído,
(d) renúncia a direitos legais, se tal for necessário,
(e) o nome e endereço do autor responsável pela correspondência acerca do manuscrito,
(f) o nome e endereço do autor a quem devem ser dirigidos pedidos de separatas, ou declaração de que não é possível obter separatas através dos autores,
(g) fontes de apoio sob a forma de subsídios, equipamento, ou medicamentos; e
(h) um curto cabeçalho ou rodapé até 40 caracteres (incluindo letras e espaços) colocado no rodapé da página de titulo.

Autoria

Todas as pessoas designadas como autores deverão preencher os requisitos de autoria. Cada um dos autores deve ter participado nos trabalhos de tal modo que possa assumir publicamente a responsabilidade pelo seu conteúdo.

A qualificação como autor deverá ser baseada apenas em contribuições substantivas para:

(1) a concepção e o delineamento, ou a análise e interpretação dos dados; 
(2) e a redação do artigo ou a sua revisão crítica no respeitante a conteúdos conceptuais importantes;
(3) e a aprovação final da versão a publicar .

Os requisitos 1, 2 e 3 devem coexistir. A simples participação na captação de financiamento ou na colheita de dados não justifica a qualidade de autor. A supervisão geral do grupo de investigação não é suficiente para a qualificação como autor. Qualquer parte de um artigo que seja crítica no respeitante às conclusões principais deste, deve ser da responsabilidade de pelo menos um dos autores. Os editores podem solicitar aos autores que descrevam a seu contributo para o artigo, e esta informação pode ser publicada.

Cada vez mais os estudos multicêntricos são atribuídos a um autor colectivo. Todos os membros do grupo que são referidos como autores, quer os seus nomes sejam designados sob o titulo quer em nota de rodapé, devem preencher todos os requisitos de autoria acima indicados. Os nomes dos membros do grupo que não cumprem esses critérios devem ser listados, com a sua autorização, nos agradecimentos ou num apêndice (Ver Agradecimentos) .

A ordem de menção dos autores deve ser uma decisão conjunta dos co-autores. Dado que esta ordem pode ser escolhida de vários modos, não pode inferir-se com precisão o seu significado a menos que os autores o indiquem. Os autores podem querer explicar a ordem de autoria numa nota de rodapé. Quando decidem sobre esta ordem, os autores devem ter em consideração que muitas revistas limitam o número de autores listados no índice, e que a National Library of Medicine dos Estados Unidos da América (NLM) lista na MEDLINE os primeiros 24 e o último autor, quando estes são mais do que 25.

Resumo e Palavras-Chave

A segunda página deve incluir um resumo (não ultrapassando 150 palavras para resumos não estruturados ou 250 palavras para resumos estruturados). O resumo deve explicitar os objectivos do estudo ou investigação, a metodologia básica (selecção da população a estudar ou dos animais de laboratório, métodos de observação e de análise), os resultados principais (fornecendo dados específicos e, se possível, a respectiva significância estatística), e as principais conclusões. Deve realçar os aspectos novos e importantes do estudo ou das observações).

Por baixo do resumo os autores devem indicar, e identificar como tais, 3 a 10 palavras-chave ou frases curtas que possam auxiliar a indexação múltipla do artigo e possam ser publicadas com o resumo. Devem ser usados termos da lista de descritores médicos (MeSH) do Index Medicus; se ainda não existirem descritores MeSH apropriados para termos de introdução recente podem usar-se essas palavras.

Introdução Indicar o objectivo do artigo e resumir a fundamentação do estudo ou da observação. Fornecer apenas referências rigorosamente pertinentes e não incluir dados ou conclusões do trabalho a que se refere o artigo. 

Métodos

Descrever com clareza o modo de selecção dos temas de observação ou experimentação (pacientes ou animais de laboratório, incluindo os controlos). Identificar a sua idade, sexo e outras características importantes. A definição e a relevância de variáveis como a idade, sexo e raça deve ser explicitamente justificada quando incluídas. Os autores devem ser particularmente cuidadosos ao usar estas categorias.

Identificar os métodos, os aparelhos (indicar entre parêntesis o nome e morada dos fabricantes), e os procedimentos usados com o pormenor suficiente para permitir a outros investigadores reproduzir os resultados. Fornecer referências para os métodos consagrados, incluindo os métodos estatísticos (ver abaixo); fornecer referências e fazer uma breve descrição dos métodos que foram publicados mas não são muito conhecidos; descrever os métodos novos ou substancialmente modificados, indicar as razões pelas quais se utilizam e avaliar as suas limitações. Identificar com precisão todos os fármacos e produtos químicos usados, incluindo a designação genérica, dose, e via de administração.

Os relatos de ensaios clínicos aleatorizados devem apresentar informação sobre todos os elementos importantes do estudo, incluindo o protocolo (população estudada, intervenções ou exposições, resultados, e a fundamentação da análise estatística), escolha das intervenções (métodos de aleatorização, ocultação da distribuição por grupos de tratamento), e o método de ocultação. 

Os autores que apresentam para publicação manuscritos de revisão deverão incluir uma secção descrevendo os métodos usados para localizar, deduzir e seleccionar os dados. Estes métodos deverão também ser indicados sumariamente no resumo.

Ética

Quando se relata experimentação com pessoas, indicar se os procedimentos seguidos estiveram de acordo com os padrões éticos da entidade (institucional ou regional) responsável pela experimentação humana e com a Declaração de Helsínquia de 1975, na sua revisão de 1983. Não mencionar nomes, iniciais ou números de processos de pacientes, particularmente em qualquer tipo de ilustração. Quando se relata experimentação com animais, indicar se, no respeitante aos cuidados e utilização de animais de laboratório, foram seguidas as indicações da instituição ou de uma autoridade nacional de investigação, ou de alguma legislação nacional.

Estatística

Descrever os métodos estatísticos com o pormenor necessário para permitir a um leitor conhecedor com acesso aos dados originais a verificação dos resultados apresentados. Sempre que possível quantificar os resultados e apresentá-los com os correspondentes indicadores de erro de medição ou de incerteza (como por exemplo intervalos de confiança). Evitar basear-se apenas em testes de inferência estatística, como o uso dos valores de p, que não veiculam informação quantitativa importante. Discutir a elegibilidade das unidades de experimentação. Fornecer informação pormenorizada sobre a aleatorização. Descrever os métodos usados para obter qualquer tipo de ocultação das observações, e o seu sucesso. Relatar complicações de tratamento. Fornecer os números de observações. Relatar perdas na observação (tais como abandonos de um ensaio clinico). As referências relativas ao delineamento do estudo e aos métodos estatísticos devem ser sempre que possível de trabalhos padrão (com indicação das páginas), de preferência a artigos nos quais os delineamentos ou métodos foram descritos pela primeira vez. Especificar os programas informáticos de utilização corrente usados.

Incluir na secção Métodos uma descrição geral da metodologia. Quando os dados são resumidos na secção Resultados, especificar os métodos estatísticos usados para os analisar. Restringir quadros e figuras aos necessários para explicitar a fundamentação do artigo e avaliar da sua solidez. Usar gráficos em vez de quadros com muitas entradas; não duplicar os dados em gráficos e quadros. Evitar o uso não técnico de termos técnicos de estatística, tais como "aleatório" (que implica um mecanismo de aleatorização), "normal", "significativo", "correlações", e "amostra". Definir os termos estatísticos, as abreviaturas e a maioria dos símbolos.

Resultados

Apresentar os resultados em sequência lógica através de texto, quadros, e figuras. Não repetir no texto todos os dados incluídos nos quadros ou figuras; realçar ou resumir apenas as observações importantes.

Discussão

Realçar os aspectos novos ou importantes do estudo e as conclusões deles decorrentes. Não repetir em pormenor dados ou outro material incluído nas secções Introdução ou Resultados. Incluir na secção Discussão as implicações e limitações dos resultados, incluindo as suas implicações para a investigação futura. Relacionar as observações com outros estudos importantes.

Relacionar as conclusões com os objectivos do estudo, mas evitar afirmações não fundamentadas e conclusões que não se baseiem totalmente nos dados. Em especial, os autores devem evitar fazer afirmações sobre benefícios económicos e custos, a menos que o manuscrito inclua dados e análise económicos. Evitar dar prioridade ou fazer alusão a trabalhos incompletos. Enunciar novas hipóteses quando tal é possível, mas assinalá-las claramente como tal. Quando for apropriado, podem incluir-se recomendações.

Agradecimentos

Num local apropriado do artigo (rodapé da página de titulo ou apêndice ao texto; ver as normas da revista) deverão incluir-se uma ou mais frases especificando:

(a) contribuições que justifiquem um agradecimento mas não justifiquem a autoria, como por exemplo o apoio geral dado por um responsável de departamento;
(b) agradecimentos por auxílio técnico;
(c) agradecimentos por apoio financeiro e material, cuja natureza deve ser especificada;
(d) relacionamentos que possam implicar um conflito de interesses (ver Conflito de Interesses).

As pessoas que tenham contribuído intelectualmente para o artigo mas cujas contribuições não justifiquem a qualidade de autor, podem ser indicadas, sendo descrita a sua função ou contribuição - por exemplo, consultor científico, revisão critica do projecto de estudo, colheita de dados, ou participação em ensaio clínico. Tais pessoas devem ter autorizado a referência dos seus nomes. Os autores são responsáveis pela obtenção de autorização escrita das pessoas nomeadas nos agradecimentos, dado que os leitores podem inferir que tais pessoas subscrevem os dados e as conclusões.

O apoio técnico deve ser agradecido num parágrafo diferente daqueles contendo agradecimentos por outros tipos de contribuição.

Referências

As referências devem ser numeradas sucessivamente pela ordem em que são mencionadas pela primeira vez no texto. Identificar as referências no texto, nos quadros, e nas legendas com algarismos árabes entre parêntesis. As referências citadas apenas em quadros ou em legendas de figuras devem ser numeradas de acordo com a sequência estabelecida pela primeira identificação no texto desse quadro ou figura.

Utilizar o estilo dos exemplos indicados a seguir, que se baseia nos formatos usados pela National Library of Medicine dos Estados Unidos da América (NLM) no Index Medicus. Os nomes das revistas devem ser abreviados de acordo com o estilo usado no Index Medicus. Consultar a lista de revistas indexadas no Index Medicus (List of Journals Indexed in Index Medicus), publicada anualmente em volume próprio pela biblioteca, e sob a forma de lista no número de Janeiro do Index Medicus. Esta lista também pode obter-se através da localização da biblioteca na World Wide Web (www.nlm.nih.gov ).

Evitar o uso de resumos como referências. As referências a artigos aceites para publicação mas ainda não publicados devem ser indicadas como "in press" ou "a sair"; os autores devem obter autorização escrita para citar esses artigos, bem como confirmação de que foram aceites para publicação. Informação procedente de manuscritos submetidos a apreciação para publicação mas não aceites deve ser citada no texto como "observações não publicadas" com autorização escrita da sua origem.

Evitar citar uma comunicação pessoal amenos que esta forneça informação essencial não disponível numa fonte de informação publicada. Neste caso o nome da pessoa e a data da comunicação devem ser citados entre parêntesis no texto. No caso de artigos científicos, os autores devem obter uma autorização escrita e uma confirmação por escrito da sua precisão por parte da fonte de uma comunicação pessoal.

As referências devem ser verificadas pelo autor face aos documentos originais. O estilo destas Normas (o estilo de Vancouver) é em grande parte baseado num estilo padrão do American National Standards Institute (ANSI) adaptado para as suas bases de dados pela National Library of Medicine dos Estados Unidos da América (NLM). Foram incluídas notas sempre que o estilo de Vancouver difere do estilo usado actualmente pela NLM.

Artigos de revistas

1. Artigo padrão de revista: Listar os primeiros seis autores seguido por et al.

(Nota: A NLM lista actualmente até 25 autores; se houver mais de 25 autores, a NLM lista os primeiros 24, depois o último autor, e depois et al.)

Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996 Jun 1;124(11):980-3.

Como opção, se a revista usa paginação continuada por volume (como fazem muitas revistas médicas) podem omitir-se o mês e número da revista. 

(Nota: Por uma questão de coerência, esta opção é usada em todos os exemplos nestas Normas. A NLM não utiliza esta opção.

Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996;124:980-3. 

Mais do que seis autores:

Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E, et al. Childhood leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer 1996;73:1006-12.

2. Organização como autor:

The Cardiac Society of Australia and New Zealand. Clinical exercise stress testing. Safety and performance guidelines. Med J Aust 1996;164:282-4. 

3. Sem menção de autor:

Cancer in South Africa [editorial]. S Afr Med J 1994;84:15.

4. Artigo não em inglês:

(Nota: A NLM traduz o titulo para inglês, apresenta a tradução entre parêntesis rectos, e junta uma designação abreviada da língua.)

Ryder TE, Haukeland EA, Solhaug JH. Bilateral infrapatellar seneruptur hos tidligere frisk kvinne. Tidsskr Nor Laegeforen 1996;116:41-2.

5. Volume com suplemento:

Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel carcinogenicity and occupational lung cancer. Environ Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82.

6. Número com suplemento:

Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women,s psychological reactions to breast cancer. Semin Oncol 1996;23(1 Suppl 2):89-97.

7. Volume com parte:

Ozben T, Nacitarhan S, Tuncer N. Plasma and urine sialic acid in non-insulin dependent diabetes mellitus. Ann Clin Biochem 1995;32(Pt 3):303-6.

8. Número com parte:

Poole GH, Mills SM. One hundred consecutive cases of flap lacerations of the leg in ageing patients. N Z Med J 1994;107(986 Pt 1):377-8.

9. Número sem menção de volume:

Turan I, Wredmark T, Fellander-Tsai L. Arthroscopic ankle arthrodesis in rheumatoid arthritis. Clin Orthop 1995;(320):110-4.

10. Sem menção de número nem de volume:

Browell DA, Lennard TW. Immunologic status of the cancer patient and the effects of blood transfusion on antitumor responses. Curr Opin Gen Surg 1993:325-33.

11. Paginação em numeração romana:

Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in clinical oncology and hematology. Introduction. Hematol Oncol Clin North Am 1995 Apr;9(2):xi-xii.

12. Indicação do tipo de artigo, se necessário:

Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in Parkinson,s disease [letter]. Lancet 1996;347:1337.

Clement J, De Bock R. Hematological complications of hantavirus nephropathy (HVN) [abstract]. Kidney Int 1992;42:1285.

13. Artigo contendo retractação:

Garey CE, Schwarzman AL, Rise ML, Seyfried TN. Ceruloplasmin gene defect associated with epilepsy in EL mice [retraction of Garey CE, Schwarzman AL, Rise ML, Seyfried TN. In: Nat Genet 1994;6:426-31]. Nat Genet 1995;11:104. 

14. Artigo retractado:

Liou GI, Wang M, Matragoon S. Precocious IRBP gene expression during mouse development [retracted in Invest Ophthalmol Vis Sci 1994;35:3127]. Invest Ophthalmol Vis Sci 1994;35:1083-8.

15. Artigo com erratum publicado:

Hamlin JA, Kahn AM. Herniography in symptomatic patients following inguinal hernia repair [published erratum appears in West J Med 1995;162:278]. West J Med 1995;162:28-31.

Livros e outras monografias

(Nota: O anterior estilo de Vancouver usava incorrectamente uma virgula em vez de um ponto e virgula entre o editor e a data.)

16. Autor(es) individual(is):

Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills for nurses. 2nd ed. Albany (NY): Delmar Publishers; 1996.

17. Editor(es), compilador, como autor:

Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health care for elderly people. New York: Churchill Livingstone; 1996.

18. Organização como autor e editor:

Institute of Medicine (US). Looking at the future of the Medicaid program. Washington: The Institute; 1992.

19. Capítulo de um livro:

(Nota: O anterior estilo de Vancouver usava uma virgula em vez de um p antes da paginação.)

Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78.

20. Livro de actos de conferência, congresso, encontro:

Kimura J, Shibasaki H, editors. Recent advances in clinical neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996.

21. Comunicação em conferência:

Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in medical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6­10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland; 1992. p. 1561-5.

22. Relatório técnico ou científico:

Publicado pela entidade financiadora ou patrocinadora:

Smith P, Golladay K. Payment for durable medical equipment billed during skilled nursing facility stays. Final report. Dallas (TX): Dept. of Health and Human Services (US), Office of Evaluation and Inspections; 1994 Oct. Report No.: HHSIGOEI69200860.

Publicado pela entidade executora:

Field MJ, Tranquada RE, Feasley JC, editors. Health ser-vices research: work force and educational issues. Washington: National Academy Press; 1995. Contract No.: AHCPR282942008. Sponsored by the Agency for Health Care Policy and Research.

23. Dissertação:

Kaplan SJ. Post-hospital home health care: the elderly,s access and utilization [dissertation]. St. Louis (MO): Washington Univ.; 1995. 

24. Patente:

Larsen CE, Trip R, Johnson CR, inventors; Novoste Corporation, assignee. Methods for procedures related to the electrophysiology of the heart. US patent 5,529,067. 1995 Jun 25.

Outras publicações

25. Artigo de jornal:

Lee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admissions annually. The Washington Post 1996 Jun 21;Sect. A:3 (col. 5).

26. Material audiovisual:

HIV+/AIDS: the facts and the future [videocassette]. St. Louis (MO): Mosby-Year Book; 1995.

27. Texto legal:

Legislação publicada:

Preventive Health Ammendments of 1993, Pub. L. No. 103-183, 107 Stat. 2226 (Dec. 14, 1993).

Legislação não promulgada:

Medical Records Confidentiality Act of 1995, S. 1360, 104th Cong., 1st Sess. (1995).

Code of Federal Regulations:

Informed Consent, 42 C.F.R. Sect. 441.257 (1995).

Audição:

Increased Drug Abuse: the Impact on the Nation,s Emergency Rooms: Hearings Before the Subcomm. on Human Resources and Intergovernmental Relations of the House Comm. on Government Operations, 103rd Cong., 1st Sess. (May 26, 1993).

28. Mapa:

North Carolina. Tuberculosis rates per 100,000 population, 1990 [demographic map]. Raleigh: North Carolina Dept. of Environment, Health, and Natural Resources, Div. of Epidemiology; 1991.

29. Livro da Bíblia:

The Holy Bible. King James version. Grand Rapids (MI): Zondervan Publishing House; 1995. Ruth 3:1-18.

30. Dicionário e referências semelhantes:

Stedman,s medical dictionary. 26th ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1995. Apraxia; p. 119-20.

31. Texto clássico:

The Winter,s Tale: act 5, scene 1, lines 13-16. The complete works of William Shakespeare. London: Rex; 1973.

Material não publicado

32. Aguardando publicação:

(Nota: A NLM prefere forthcoming = a sair, porque nem todos os textos serão publicados.)

Leshner AI. Molecular mechanisms of cocaine addiction. N Engl J Med. In press 1996.

Material electrónico

33. Revista em formato electrónico:

Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5];1(1):[24 screens]. Available from: URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm

34. Monografia em formato electrónico:

CDI, clinical dermatology illustrated [monograph on CD-ROM]. Reeves JRT, Maibach H. CMEA Multimedia Group, producers. 2nd ed. Version 2.0. San Diego: CMEA; 1995.

35. Ficheiro de computador:

Hemodynamics III: the ups and downs of hemodynamics [computer program]. Version 2.2. Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993.

Quadros

Dactilografar ou imprimir cada um dos quadros a dois espaços numa folha separada. Não apresentar quadros sob a forma de fotografias. Numerar os quadros sucessivamente pela ordem da sua primeira citação no texto, e atribuir um título breve a cada um. Indicar para cada coluna um título curto ou abreviado. Colocar as notas explicativas em rodapé, não no cabeçalho ou título. Explicar nas notas de rodapé todas as abreviaturas não padronizadas usadas em cada quadro. Para assinalar as notas de rodapé usar os símbolos seguintes, por esta ordem: *, †, ‡, §,II, ¶, **, ††, ‡‡, etc.

Identificar as medidas estatísticas de variações, como o desvio padrão e o erro padrão da média. Não usar linhas de separação horizontais ou verticais no interior dos quadros. Certificar-se de que todos os quadros são citados no texto. Se se utilizarem dados de outra fonte, publicada ou não, obter a respectiva autorização e mencionar esse facto nos agradecimentos. 

A utilização de demasiados quadros em relação á dimensão do texto pode causar dificuldades no arranjo gráfico das páginas. Examinar números da revista para a qual se pensa enviar o artigo para estimar quantos quadros podem ser incluídos por cada 1000 palavras de texto.

Ao aceitar um artigo, o editor pode recomendar que quadros adicionais, contendo dados em reserva importantes mas demasiado extensos para serem publicados, sejam depositados num serviço de arquivo, como o National Auxiliary Publication Service nos Estados Unidos, ou sejam disponibilizados para consulta pelos autores. Nesse caso será incluída no texto uma nota apropriada. Enviar também esses quadros para apreciação com o artigo. 

Ilustrações (Figuras)

Enviar o número requerido de conjuntos completos de figuras. As figuras devem ser desenhadas e fotografadas de modo profissional; a inclusão de letras manuscritas ou dactilografadas é inaceitável. Em vez de desenhos originais, radiografias, ou outros materiais, enviar fotografias nítidas a preto e branco em papel brilhante, em geral com as dimensões de 127-173 mm, e nunca ultrapassando 203-254 mm. Letras, números e símbolos devem ser nítidos e idênticos em todas as figuras, e com dimensões suficientes para poderem ser legíveis depois de reduzidos para publicação. Os títulos e as notas explicativas de pormenor pertencem às legendas das figuras e não a estas propriamente ditas.

Cada uma das figuras deve ter colada no verso uma etiqueta com indicação do número da figura, do nome do autor, e de qual o bordo superior da figura. Não escrever no verso das figuras nem as raspar ou danificar com clipes. Não enrolar as figuras nem as montar em cartão.

As microfotografias devem ter indicadores de escala internos. Os símbolos, setas ou letras usados nas microfotografias devem contrastar com o fundo. 

Se se utilizarem fotografias de pessoas, ou estas não podem ser identificáveis, ou as suas fotografias devem ser acompanhadas por uma autorização escrita para as usar (ver Protecção do direito dos pacientes à privacidade). 

As figuras devem ser numeradas sucessivamente de acordo com a ordem pela qual foram citadas em primeiro lugar no texto. Se uma figura já foi publicada, incluir um agradecimento à fonte original e apresentar autorização escrita do detentor dos direitos de autor para a respectiva reprodução. É necessária a autorização quer este seja o autor quer seja o editor, excepto para documentos que pertençam ao domínio público. 

Para figuras a cores informar-se sobre se a revista requer negativos a cores, diapositivos ou cópias em papel. Desenhos com indicação da zona da fotografia que deve ser reproduzida podem ser úteis para o editor. Algumas revistas apenas publicam figuras a cores se o autor pagar os custos adicionais.

Legendas das ilustrações

Dactilografe ou imprima as legendas para as ilustrações a dois espaços, numa pagina separada, com números árabes correspondendo às figuras. Quando se usam símbolos, setas, números ou letras para assinalar partes das figuras, identificar e explicar claramente cada um deles na legenda. Explicitar a escala interna e identificar o método de coloração usado nas microfotografias.

Unidades de medida

As medidas de comprimento, altura, peso e volume devem ser expressas em unidades do sistema métrico (metro, quilograma ou litro) ou seus múltiplos decimais.

A temperatura deve ser expressa em graus Celsius. Os valores da pressão arterial devem ser expressos em milímetros de mercúrio.

Todos os valores hematológicos e de química clínica devem ser apresentados em unidades do sistema métrico, nos termos do Sistema Internacional de Unidades (SI). Antes da publicação, os editores podem solicitar aos autores que incluam também unidades alternativas ou não SI.

Abreviaturas e símbolos

Utilizar apenas abreviaturas padronizadas. Evitar abreviaturas no titulo e no resumo. A designação completa ã qual se refere uma abreviatura deve preceder a primeira indicação desta no texto, a não ser que se trate de uma unidade de medida padrão.

ENVIO DOS MANUSCRITOS PARA A REVISTA

Expedir pelo correio o número requerido de cópias do manuscrito num envelope de papel espesso, protegendo, se necessário, o manuscrito e as ilustrações com placas de cartão, de modo a impedir a dobragem das fotografias. Colocar as fotografias e diapositivos num envelope separado, de papel espesso.

Os manuscritos devem ser acompanhados por uma carta assinada por todos os co-autores. Esta carta deve incluir:

(1) informação acerca de publicação prévia ou repetida, ou sobre envio para apreciação, em qualquer outro lado. de qualquer parte do trabalho, como definido acima neste documento;
(2) uma declaração sobre relacionamentos financeiros ou outros, que possam provocar um conflito de interesses;
(3) uma declaração de que o manuscrito foi lido e aprovado por todos os autores, de que os requisitos sobre autoria definidos neste documento foram respeitados, e de que cada um dos autores acredita que o manuscrito representa trabalho honesto;
(4) o nome, endereço e número de telefone do autor a contactar , que fica responsável pelos contactos com os outros autores acerca de revisões e da aprovação final das provas.

A carta deverá fornecer quaisquer outras informações adicionais que possam ser úteis para o editor, tais como a classificação do tipo de artigo proposta à revista, e se o autor concorda em assumir o pagamento do custo da reprodução de figuras a cores.

A acompanhar o manuscrito devem ser enviadas cópias de quaisquer autorizações para reproduzir material já publicado, para utilizar figuras ou para relatar informação sobre pessoas identificáveis, ou para referir os nomes de pessoas a quem se agradecem os contributos.

DECLARAÇÕES ANEXAS

Definição de uma publicação revista por pares

Uma revista com revisão por pares é uma revista que submete a maior parte dos seus artigos publicados a uma revisão por peritos que não fazem parte do corpo editorial. O número e tipo de manuscritos enviados para revisão, o número dos revisores, os processos de revisão e a utilização que é dada aos pareceres dos revisores podem variar, pelo que cada revista deve anunciar publicamente a sua política nas suas instruções aos autores, para beneficio dos leitores e dos potenciais autores.

Liberdade e integridade editoriais

Os proprietários e editores de revistas médicas têm um empenho comum — a publicação de uma revista fiável e legível, produzida com o devido respeito pelos fins declarados da revista e pelos custos. As funções de proprietários e editores são contudo diferentes. Os proprietários têm o direito de nomear e demitir os editores e de tomar decisões negociais importantes, nas quais os editores deverão ser plenamente envolvidos. Os editores devem ter total autoridade para determinar o conteúdo editorial da revista. Este conceito de liberdade editorial deve ser firmemente defendido pelos editores, mesmo à custa da colocação dos seus lugares em perigo. Para garantir esta liberdade na prática, o editor deve ter acesso directo ao mais alto nível da entidade proprietária, e não apenas a um gestor delegado.

Os editores das revistas médicas deverão ter um contrato que claramente estatui os direitos e deveres do editor, para além dos termos gerais do contrato, e que defina mecanismos para resolução de conflitos.

Um conselho editorial independente pode ser útil para ajudar o editor a definir e manter a política editorial.

Todos os editores e organizações de editores têm a obrigação de apoiar o conceito de liberdade editorial e de dar conhecimento ã comunidade médica internacional de transgressões graves a essa liberdade.

Conflito de interesses

Existe conflito de interesses em relação a um determinado manuscrito quando um participante no processo de revisão e publicação — autor, revisor ou editor tem ligação a actividades que poderiam influenciar inapropriadamente o seu julgamento, quer este seja ou não de facto afectado. As relações financeiras com a indústria - através, por exemplo, de emprego, consultoria. detenção de capital, honorários, peritagem. quer directamente quer através de um familiar próximo, são em geral considerados importantes conflitos de interesses. Contudo, podem ocorrer conflitos por outras razões. tais como relações pessoais, competição académica, e paixão intelectual.

A confiança pública no processo de revisão por pares e a credibilidade dos artigos publicados dependem em parte da correcção do modo como os conflitos de interesses são geridos durante a redacção. a revisão e a decisão editorial. Podem frequentemente ser identificados e eliminados vieses através de uma cuidadosa atenção aos métodos científicos e às conclusões do trabalho. As relações financeiras e os seus efeitos são menos facilmente detectados do que outros conflitos de interesses. Os participantes na revisão por pares e na publicação deverão declarar os seus interesses potencialmente conflituais, e tal informação deverá estar disponível de modo a permitir que outras pessoas possam por si mesmas avaliar os seus efeitos. Dado que os leitores podem ter mais dificuldade em detectar vieses em artigos de revisão e editoriais do que em relatos de investigação original. algumas revistas não aceitam revisões e editoriais de autores com conflitos de interesses.

Autores - quando enviam para publicação um manuscrito, seja ele um artigo ou uma carta, os autores têm a responsabilidade de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiros e outros que poderiam enviesar o seu trabalho. Devem agradecer no manuscrito todo o apoio financeiro ao trabalho, bem como outras ligações financeiras ou pessoais com o trabalho.

Revisores - os revisores pares exteriores deverão declarar aos editores quaisquer conflitos de interesses que possam enviesar as suas opiniões sobre o manuscrito, e deverão desqualificar-se para a revisão de manuscritos específicos se pensarem que tal é apropriado. Os editores devem ser postos ao corrente de conflitos de interesses dos revisores para poderem interpretar os seus pareceres e decidirem por si se o revisor deverá ser desqualificado. Os revisores não devem usar o seu conhecimento de um trabalho antes da sua publicação para favorecer os seus interesses. 

Editores e corpo editorial - os editores que tomam as decisões finais acerca dos manuscritos não deverão ter qualquer envolvimento financeiro pessoal em qualquer das matérias que podem apreciar. Os outros membros do corpo editorial, caso participem em decisões editoriais, deverão fornecer aos editores uma descrição corrente dos seus interesses financeiros (enquanto estes possam estar relacionados com as decisões editoriais) e desqualificarem-se a si mesmos para quaisquer decisões em que possam ter um conflito de interesses. Os artigos e cartas publicadas deverão incluir uma descrição de todo o apoio financeiro e de qualquer conflito de interesses que, na opinião do editor, deva ser do conhecimento dos leitores. O corpo editorial não deverá utilizar em proveito próprio a informação adquirida através do trabalho com manuscritos.

Correcções. Retratações, e "Expressões de preocupação" acerca de achados de investigação

Em princípio os editores devem assumir que os autores relatam trabalho baseado em observações honestas. No entanto podem surgir dois tipos de dificuldade.

Em primeiro lugar , podem notar-se nos artigos publicados erros que obrigam á publicação de uma correcção ou erratum de parte do trabalho. Pode conceber-se que um erro possa ser tão grave que todo o trabalho seja adulterado, mas isso é improvável e deverá ser resolvido por editores e autores casuisticamente. Este tipo de erro não deverá ser confundido com inadequações postas a nu pela emergência de informação científica nova no decurso normal da investigação. Estas últimas não requerem correcções ou retratações.

O segundo tipo de dificuldade é a fraude científica. Se surgirem dúvidas substanciais acerca da honestidade do trabalho, quer proposto para publicação quer já publicado, é da responsabilidade do editor assegurar-se de que a questão é adequadamente esclarecida (incluindo possível consulta aos autores). Não é no entanto tarefa dos editores conduzir uma investigação plena ou chegar a uma conclusão definitiva; esta responsabilidade pertence ã instituição na qual foi executado, ou á entidade financiadora. O editor deve ser rapidamente informado da decisão final, e se foi publicado um artigo fraudulento a revista deve publicar uma retractação. Se deste método de investigação não resultar uma conclusão satisfatória, o editor pode optar por publicar uma expressão de preocupação com uma explicação. 

A retractação, ou a expressão de preocupação, devem ser publicadas com essa denominação numa página numerada de uma secção importante da revista, ser incluídas no índice ou sumário da revista, e incluir no seu título o título do artigo original. Não deverão ser apenas uma carta ao editor. O ideal será que o primeiro autor da retractação seja o mesmo do artigo retractado, embora em certas circunstâncias o editor possa aceitar retratações por outras pessoas responsáveis. O texto da retractação deve explicar as razões pelas quais o artigo está a ser retractado e incluir uma referência bibliográfica dele.

A validade do trabalho anterior do autor de um artigo fraudulento não pode ser assumida. Os editores podem solicitar à instituição do autor garantias acerca da validade de trabalhos anteriores publicados nas suas revistas, ou uma retractação desses trabalhos. No caso de isso não ser feito, podem optar pela publicação de um aviso anunciando que a validade dos trabalhos anteriormente publicados não está garantida. 

Confidencialidade

Os manuscritos devem ser revistos com o devido respeito pela confidencialidade do autor. Ao submeterem os seus manuscritos a revisão, os autores confiam aos editores os resultados do seu trabalho científico e esforço criador, dos quais podem depender a sua reputação e carreira. Os direitos dos autores podem ser violados por quebra dos pormenores confidenciais da revisão do seu manuscrito. Os revisores também têm direito à confidencialidade, que deve ser respeitada pelo editor. A confidencialidade pode ter de ser quebrada no caso de alegada fraude ou desonestidade, mas deve ser mantida em todas as outras situações.

Os editores não devem fornecer informação acerca dos manuscritos (incluindo a sua recepção, o seu conteúdo, a sua situação no processo de revisão, as apreciações de que foram objecto pelos revisores, ou o seu destino final) a ninguém para além dos próprios autores e dos revisores.

Os editores devem instruir claramente os seus revisores sobre o facto de que os manuscritos enviados para revisão são comunicações privilegiadas e constituem propriedade privada dos autores. Em consequência, os revisores e os membros do corpo editorial deverão respeitar os direitos dos autores não discutindo em público o trabalho dos autores nem se apropriando das suas ideias antes de o manuscrito ser publicado. Os revisores não devem ser autorizados a fazer cópias do manuscrito para si mesmos, e devem ser proibidos de o partilharem com outrem, excepto se para isso tiverem a autorização do editor. os editores não devem conservar cópias dos manuscritos rejeitados.

Divergem as opiniões acerca do anonimato dos revisores. Alguns editores exigem aos revisores que assinem as apreciações enviadas aos autores.mas a maioria pede que os comentários dos revisores não sejam assinados ou deixa a decisão ao critério do revisor. Quando os pareceres não são assinados a identidade dos revisores não deve ser revelada ao autor ou a quem quer que seja.

Algumas revistas publicam os comentários dos revisores com o manuscrito. Tal procedimento não deverá ser adoptado sem o consentimento de autores e revisores. No entanto os comentários de revisores podem ser enviados para outros revisores do mesmo manuscrito, e os revisores devem ser notificados da decisão do editor.

Revistas médicas e meios de comunicação social

O interesse público por notícias da investigação médica levou os meios de comunicação social de massas a competir vigorosamente para obter informação acerca da investigação o mais precocemente possível. Os investigadores e as instituições encorajam muitas vezes o relato de investigação nos meios de comunicação social antes da sua plena publicação numa revista científica promovendo uma conferência de imprensa ou concedendo entrevistas. 

O público tem direito ã informação médica importante dentro de prazos razoáveis, e os editores têm a sua quota parte de responsabilidade neste processo. No entanto, os médicos necessitam de ter à sua disposição relatórios completos e pormenorizados antes de poderem aconselhar os seus pacientes sobre as conclusões desses relatórios. Para além disso, o relato nos meios de comunicação social de investigação científica antes de o trabalho tenha sido revisto por pares e plenamente publicado pode levar à disseminação de conclusões imprecisas ou prematuras.

Para traçar políticas a respeito destas situações. os editores podem utilizar as seguintes recomendações:

1. Os editores podem fomentar a transmissão

ordenada ao público de informação médica proveniente de investigadores através de revistas com revisão por pares. Este objectivo pode ser conseguido através de um acordo com os autores, comprometendo-se estes anão publicitar o seu trabalho enquanto o manuscrito está a ser apreciado ou a aguardar publicação. e de um acordo com os meios de comunicação social, comprometendo-se estes a não publicar noticias antes da publicação na revista, com a contrapartida da colaboração da revista na preparação de noticias precisas (ver em baixo).

2. Muito pouca investigação médica tem implicações clínicas para a saúde pública tão evidentes e prementes que justifiquem a publicação de notícias antes da sua plena publicação numa revista. Nestes casos excepcionais, no entanto, as competentes autoridades responsáveis pela saúde pública devem tomar a decisão e ser responsáveis pela disseminação antecipada de informação aos médicos e aos meios de comunicação social de massas. No caso de o autor e as autoridades competentes desejarem que um manuscrito seja apresentado para publicação numa revista específica, o editor desta deve ser consultado antes de qualquer difusão pública. Se os editores concordarem com a necessidade de divulgação imediata, devem prescindir das suas políticas de limitação de publicidade anterior à publicação. 

3. As políticas de limitação de publicidade anterior à publicação não devem aplicar-se a relatos nos meios de comunicação social sobre apresentações em reuniões científicas ou aos resumos destas reuniões (ver Publicação redundante ou em repetida). Os investigadores que apresentam o seu trabalho numa reunião científica devem ter a liberdade de discutir as suas apresentações com os jornalistas. mas devem ser desencorajados de fornecer mais pormenores sobre o seu estudo do que aqueles que apresentaram na sua comunicação. 

4. Quando um artigo está prestes a ser publicado, os editores podem querer auxiliar os meios de comunicação social a preparar relatos precisos através do fornecimento de comunicados de imprensa. da resposta a perguntas. do fornecimento prévio de cópias da revista. ou da colocação dos jornalistas em contacto com os peritos adequados. Este tipo de colaboração deve ser condicionada à cooperação dos meios de comunicação social através do compromisso de fazerem coincidir a publicação de noticias com a publicação do artigo.

Publicidade

A maior parte das revistas médicas incluem publicidade, que é uma fonte de rendimento para a revista, mas não deve ser permitido à publicidade influenciar as decisões editoriais. Os editores devem ter total responsabilidade pela política de publicidade. Os leitores devem poder distinguir rapidamente publicidade e material editorial. A justaposição de material editorial e publicitário acerca dos mesmos produtos ou assuntos deve ser evitada, e a publicidade não deve ser vendida sob condição de ser incluída no mesmo número em que é publicado um determinado artigo.

Uma revista não deve ser dominada pela publicidade, mas os editores devem ser cautelosos acerca da publicação de publicidade com origem em apenas um ou dois anunciantes, dado que os leitores podem inferir que o editor foi influenciado por esses anunciantes.

As revistas não devem incluir publicidade a produtos que provaram ser gravemente nocivos para a saúde como por exemplo o tabaco. Os editores devem assegurar-se de que as normas existentes para a publicidade são respeitadas, ou desenvolver normas próprias. Finalmente os editores devem aceitar para publicação quaisquer críticas à publicidade.

Suplementos

Suplementos são colecções de artigos que tratam de tópicos ou assuntos relacionados, são publicados como um número separado da revista ou como uma segunda parte de um número regular e são em geral financiados por entidades exteriores à revista. os suplementos podem ter finalidades úteis: educação. troca de informações sobre investigação, facilidade de acesso ao assunto focado, e aumento da colaboração entre entidades académicas e empresariais. Devido às fontes de financiamento, o conteúdo dos suplementos pode reflectir vieses na escolha dos tópicos e pontos de vista. Os editores devem pois ter em consideração os seguintes princípios: 

1. O editor da revista deve assumir total responsabilidade pelas políticas, práticas, e conteúdo dos suplementos. O editor da revista deve aprovar a nomeação de qualquer editor do suplemento e conservar a autoridade para rejeitar artigos.

2. As fontes de financiamento da investigação, reunião e publicação, devem ser claramente enunciadas, e localizadas em local proeminente no suplemento, de preferência em todas as páginas. Sempre que possível o financiamento deve provir de mais do que um patrocinador .

3. A publicidade nos suplementos deve obedecer á mesma política seguida para a publicidade no resto da revista.

4. Os editores devem permitir aos leitores a distinção pronta entre páginas de edição normais e páginas do suplemento.

5. A montagem não deve ser permitida à organização financiadora.

6. Os editores de revistas e os editores de suplementos não devem aceitar favores pessoais ou compensações excessivas por parte dos patrocinadores de suplementos.

7. A publicação secundária em suplementos deve ser claramente identificada através da citação do artigo original. Deve evitar-se a publicação redundante. 

Papel da coluna de correspondência

Todas as revistas biomédicas deveriam ter uma secção incluindo comentários, perguntas, ou criticas acerca de artigos que publicaram, na qual os autores originais podem responder. Em geral, mas não necessariamente, esta secção pode revestir a forma de coluna de uma correspondência. A ausência de uma secção deste tipo retira aos leitores a possibilidade de responder a artigos na mesma revista em que o trabalho original foi publicado.

Competição de manuscritos baseados no mesmo estudo

Os editores podem receber manuscritos de autores diferentes com interpretações do mesmo estudo em competição. Têm então de decidir se aceitam para revisão manuscritos em competição que lhes foram enviados mais ou menos simultaneamente por grupos ou autores diferentes, ou podem ser solicitados a considerar um manuscrito, ao mesmo tempo que um outro manuscrito em competição foi ou será enviado para outra revista. Pondo de lado a questão não resolvida da propriedade dos dados, discute-se aqui o que os editores deveriam fazer quando confrontados com a recepção de manuscritos em competição baseados no mesmo estudo.

Consideram-se dois tipos de envios múltiplos para publicação: envios por colaboradores no trabalho que estão em desacordo sobre a análise e interpretação do seu estudo, e envio por colaboradores no trabalho que discordam acerca do significado dos factos e da escolha dos dados a serem relatados.

As observações gerais que se seguem podem ajudar os editores e outras pessoas a lidar com este problema.

Diferenças na análise ou interpretação - Normalmente as revistas não quererão publicar artigos diferentes da autoria de membros de uma equipa de investigação em conflito, que têm análises e interpretações diferentes dos dados, e o envio de tais manuscritos deve ser desencorajado. Se os colaboradores no trabalho não conseguem resolver as suas diferenças de interpretação entes de enviar o manuscrito, devem considerar a hipótese de enviar um manuscrito contendo múltiplas interpretações e chamar a atenção do editor para a sua divergência de modo a que os revisores possam considerar a questão. Uma das importantes funções da revisão por pares é avaliar a análise e interpretação dos autores e sugerir modificações adequadas das conclusões antes da publicação. Em alternativa, após a publicação da versão em disputa, os editores podem querer tomar em consideração uma carta ao editor ou um segundo manuscrito dos autores dissidentes. Os envios múltiplos colocam aos editores um dilema. A publicação de manuscritos em contencioso para ventilar as disputas dos autores pode ser um desperdício de espaço da revista e confundir os leitores. Por outro lado, se os editores publicam conscientemente um manuscrito escrito apenas por alguns dos colaboradores no trabalho, poderão estar a negar aos outros elementos da equipa os seus legítimos direitos de co-autoria.

Diferenças nos métodos ou resultados relatados - Os trabalhadores divergem muitas vezes nas suas opiniões acerca do que foi efectivamente feito e observado e de quais os dados que devem ser relatados. Não pode esperar-se que a revisão por pares resolva este problema. Os editores devem rejeitar a apreciação deste tipo de envio múltiplo até resolução do problema. Para além disso, se houver alegação de desonestidade ou de fraude, os editores devem informar as autoridades competentes.

Os casos descritos acima devem ser distinguidos dos casos em que autores independentes e não trabalhando em colaboração enviam manuscritos diferentes baseados em análises diferentes de dados publicados disponíveis. Neste caso a aceitação editorial de envios múltiplos pode ser justificada, e ser mesmo uma boa razão para publicar mais do que um manuscrito, dado que abordagens analíticas diferentes podem ser complementares e igualmente válidas.

CITAÇÕES DESTAS NORMAS

Revistas em todo o mundo publicaram estas normas e as declarações anexas (e o documento está disponível actualmente em várias localizações na World Wide Web – por exº http://www.cma.ca/publications/mwc/uniform.htm ). Para citar a versão mais recente destas Normas, assegurar-se de que se cita uma versão publicada em 1 de Janeiro de 1997 ou posteriormente. 

As citações do original deste documento podem ser feitas por referência a uma das várias revistas nas quais foi publicado, nomeadamente aquela a partir da qual esta tradução foi feita:

International Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. JAMA 1997;277:927 -34.

Esta tradução foi feita por José António Miranda. Este documento não está protegido por direitos de autor; pode ser copiado ou distribuído gratuitamente com fins não lucrativos.

As citações desta tradução portuguesa devem ser feitas pela seguinte referência:

Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas. Normas para apresentação de artigos propostos para publicação em revistas médicas. Rev Port Clin Geral 1997;14:159-74.
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